quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A normalidade da anormalidade


Anseio pela ansiedade de ansiar 
O sentimento de sentir o poder sentir,
A vontade de me perder perdidamente à vontade,
Sabendo que não sei quem sou, nem para onde vou.

Procuro sem procurar encontrar-me,
Na imensidão do vazio do ser,
Desejando desajar o desejo,
Que me faça desfazer quem sou e para onde vou.

Pergunto, a quem posso, perguntas,
Como se perguntar o que pergunto,
Àqueles que não eu soubessem
Aquilo que me dirá quem sou e para onde vou.

Quero simplesmente querer crer,
Que no meio deste nada infinito,
Tudo é possivelmente certo e determinado,
Não interessa pensar em pensamentos pensados,
Respeitando-se a obdiência à anormalidade da norma.


Sacavém, 3 de setembro de 2020

domingo, 26 de abril de 2020

Falsa liberdade moral


Desde há tanto tempo,
Faz tanto de tudo.
Um turbilhão ermo
E um grito mudo.

Elas atropelam-se,
Por entre tais dedos,
Elas interpelam-se,
Guardando segredos.

Rasga-se o silêncio,
Teclar hesitante,
Ainda qu’obstante,
‘ quem confidencio?!

Desde há tanto tempo,
Faz tanto de nada,
Mero passatempo,
Verdade negada.

Sugere qu’o é:
Tal momento livre;
Pres’à sua fé,
Restam reticências
Das suas carências.

Barcarena, 26.04.2020