domingo, 9 de julho de 2023

É/O tempo das borboletas


E sempre ao cair da noite,

Esmorecem as defesas,

Iluminam-s' os sentidos:

É a luz além poente

Que protege' as indefesas

E todos qu' estão contidos.


Ganha-s' autenticidade!


E eis qu' a felicidade,

Vem d' audácia da vida,

Vem do ir e do chegar,

Pois é a falta sentida

Que nos faz apreciar

Quem realmente (s') importa;

O que de verdade interessa.


Ganha-se clarividência!


Porque é nessa linha torta,

Num estágio sem pressa,

Que s' antinge' a paciência

E em que tudo começa:

Dá-se lugar à harmonia,

Num nível de sapiência,

De pura sabedoria.


Ganha-se tal liberdade!


Assim e sem mais demoras,

Acabam-s' as demais lutas,

As angustiantes horas...

É tempo das borboletas,

E da brisa das canções,

P'ra junção dos corações. 


Ínicio: floresta do norte da Tailândia a 27/06/2023

Término: viagem de comboio de Chiang Mai para Banguecoque a 07/07/2023

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Quem me dera


Quem me dera poder ser,

Ser o que sentir;

Quem me dera poder dizer,

Dizer sem ter de mentir,

Dizer sem ter de esperar.

 

Quem me dera poder dar,

Dar sem ter de disfarçar;

Quem me dera poder sorrir,

Sorrir sem ter de encobrir,

Sorrir para te fazer corar.

 

Quem me dera poder viver,

Viver e que todos pudessem ver;

Quem me dera poder escrever,

Escrever para que pudesses ler,

Escrever para que pudesses saber.

 

Quem me dera poder tocar,

Tocar para te derreter;

Quem me dera poder cheirar

Cheirar para te arrepiar,

Cheirar para te conhecer.

 

Quem me dera poder abraçar,

Abraçar sempre que quiser;

Quem me dera poder beijar,

Beijar para te acarinhar,

Beijar por te querer.


E tu, quem me dás?


Porto, 15 de abril de 2022

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A normalidade da anormalidade


Anseio pela ansiedade de ansiar 
O sentimento de sentir o poder sentir,
A vontade de me perder perdidamente à vontade,
Sabendo que não sei quem sou, nem para onde vou.

Procuro sem procurar encontrar-me,
Na imensidão do vazio do ser,
Desejando desajar o desejo,
Que me faça desfazer quem sou e para onde vou.

Pergunto, a quem posso, perguntas,
Como se perguntar o que pergunto,
Àqueles que não eu soubessem
Aquilo que me dirá quem sou e para onde vou.

Quero simplesmente querer crer,
Que no meio deste nada infinito,
Tudo é possivelmente certo e determinado,
Não interessa pensar em pensamentos pensados,
Respeitando-se a obdiência à anormalidade da norma.


Sacavém, 3 de setembro de 2020

domingo, 26 de abril de 2020

Falsa liberdade moral


Desde há tanto tempo,
Faz tanto de tudo.
Um turbilhão ermo
E um grito mudo.

Elas atropelam-se,
Por entre tais dedos,
Elas interpelam-se,
Guardando segredos.

Rasga-se o silêncio,
Teclar hesitante,
Ainda qu’obstante,
‘ quem confidencio?!

Desde há tanto tempo,
Faz tanto de nada,
Mero passatempo,
Verdade negada.

Sugere qu’o é:
Tal momento livre;
Pres’à sua fé,
Restam reticências
Das suas carências.

Barcarena, 26.04.2020

sábado, 12 de agosto de 2017

Kinder


Eu só queria compreender,
O qu’incompreensível é,
Pois não há assim outro saber,
De tão e mui nobre grandeza,
Que é impossível pôr de ré,
D’andar ao sabor da maré,
Não fosse essa mesma riqueza,
A mais ingénua essência,
Que faz ministrar paciência,
‘ Busca incessante d’união,
Sobrepondo-se à tal razão,
Para assim quebrar o abismo,
Entre um e outro, entre os dois,
Deixar por terra qualquer cismo,
Não fosse o qu’interessa a crença,
De uma nada naïf sentença.

Olhão, 12 de agosto de 2017

sábado, 24 de setembro de 2016

The forbidden times


It’s closer, so much closer...
It's coming again.
I thought it was over,
Or maybe I knew it was just there.

What to do?
How to behave?
Now it's sure,
It's so pure.

It's about the feeling,
At each single communication,
Or at each "casual" meeting
That it needs to be attention;

Otherwise there's no return,
And we don't know what is better.
Actually we don't know the contorn,
Perhaps it's under the conscience...

Who knows that science?
To be without being,
Or to be between...
Such a frame, such a scene.

It's closer, so much closer,
And no one wants to be a loser.


Porto, 24th September 2016

sábado, 5 de setembro de 2015

Subliminar


Bem-aventurados os instintivos,
Porque sentem sem pensar.
Felizes os despreocupados,
Por viverem o presente.
Afortunados os desregrados,
Por predarem os seus sonhos.

De tanta consciência se pensa o Homem,
Mas de tanto desconhecimento se o faz.
Entre a clareza e o rigor do que dizemos “ámen”,
Reina a efetiva anónima raiz.

A explicação é exigida
E a razão apronta-se para apresentá-la,
Nem que para isso tenha de inventá-la,
Nem que para isso tenha de acreditá-la.

Eis a consciência crente inocente,
De que sabe tudo sem saber,
O verdadeiro motivo do seu viver.

Porto, 5 de setembro de 2015